NBS CARTA MORADOR 1

 

Carta da Moradora
Ana Karina do Carmo
(sobre o artigo Bom Dia, Vizinho!)
 
Li o artigo sobre a cordialidade entre vizinhos e concordo plenamente. Moro no Grumari desde os 3 anos de idade, agora tenho 34, portanto alguns moradores mais velhos me conhecem desde criança. Nunca importunei ninguém no prédio, nem com barulho,nem festas, nem com amigos mal educados etc, coisas normais da adolescência. Sempre quis ter um cachorro e nunca pude pois o meu prédio era o único que não permitia. Fui uma criança frustrada por causa disso.

Há uns 4 anos tive uma doença muscular e o médico disse que seria bom eu ter um cachorro para me incentivar a fazer caminhadas. Descobri então que a constituição já me dava esse direito há muito tempo e ganhei uma cachorrinha de uma grande amiga minha. Sofri muitas pressões e constrangimentos do então síndico, que ordenava os porteiros a anotar os horários em que eu saía com ela. Sempre respeitei toda a etiqueta canina, cato o cocô, ela desce sempre no elevador de serviço, não late nos horários de silencio.

Mas ela é uma Schnauzer e então late quando desce e por isso nunca desço com ela cedo ou tarde da noite. Mas mesmo assim alguns desses moradores que me conhecem há tanto tempo começaram a não responder ao meu bom dia, a pegar o elevador de serviço, que eu já estava esperando com a cachorra, e baterem a porta na minha cara e até ameaçaram chutar a cachorra, se ela não parasse de latir ao descer. Eu achava que era o fato de ela latir que incomodava as pessoa, mas na Páscoa do ano passado resgatei um cachorro que tinha sido jogado no lixo do Flag's Center; se eu não pegasse, ele iria morrer porque estava muito ferido e debilitado.

Ele se recuperou bem até demais e o que pensávamos que fosse um basset se tornou um mestiço de Rotweiler. Mas por tudo que ele passou, é um doce, adora falar com todo mundo e não late pra ninguém, mas mesmo assim também sou discriminada quando estou com ele, uma vez uma senhora até se fez o sinal da cruz quando o viu calado e totalmente manso. E outros cachorros do prédio fofos e pequenos como Shitsuz, Yorks e Poodles também causam a mesma reação agressiva.


Percebi então que o simples fato de eu ou outro morador termos cachorros nos tornam criminosos aos olhos dessas pessoas. Eu percebo uma intolerância muito grande e talvez até ignorância. Por isso achei muito importante seu outro artigo sobre cachorros para serem companhias de idosos. Sou psicóloga e sei muito bem o quanto eles podem ajudar não só a idosos, mas a crianças e outras pessoa com problemas psicológicos como depressão. E as idosas donas de cachorro que eu conheço são muito mais alegres e tolerantes do que essas do meu prédio que me tratam com tanto desrespeito. Nem que não tenham um cachorro, mas que pelo menos abram um sorriso e façam um carinho num cachorro de um vizinho e que isso melhore o dia delas. Meu cachorro é um que está sempre pronto para alegrar o dia de alguém.

Enquanto pessoas atravessam a rua quando o vêem, outras que passam desanimadas e olham pra cara alegre que só um vira lata resgatado pode ter, abrem um sorriso.
Ainda em relação a cachorros vários já morreram no condomínio por causa de envenenamento. Apesar de não justificar e acreditar que as pessoas que fazem isso são psicopatas, muitas alegam que colocam o veneno porque algumas pessoas não recolhem o cocô dos seus cachorros. Então deixo a sugestão que faça no site uma campanha para coleta do cocô para quem sabe conseguirmos diminuir esses conflitos entre vizinhos, tornando nosso condomínio mais limpo, seguro para os cães e mais harmonioso para se viver.


O pior mesmo é quando jogam coisas pela janela porque o cachorro tá latindo, quase fui acertada várias vezes por ovos, saco plástico cheio de gelo e etc. O caso mais grave foi quando eu e mais três pessoas conversávamos, incluindo uma senhora bem idosa, que infelizmente não mora mais aqui. Todas com cachorros, mas todos estavam calados, só porque estávamos conversando e rindo, jogaram uma garrafa plástica cheia de água que estourou no chão perto dessa senhora. Aí realmente ficamos revoltadas, porque é uma coisa muito perigosa e pode machucar alguém. (Outra sugestão pro blog: conscientizar as pessoas que janela não é lixeira, porque jogam de tudo, até fralda suja, e muito menos tiro ao alvo pra ficar acertando as pessoas).
Mas além do desabafo, seus artigos mexeram comigo porque eu fico pensando todo dia sobre isso que você escreveu. Uma pessoa está saindo pra trabalhar, tem tanta coisa perigosa que ela vai enfrentar lá na rua e fica com medo de cachorro? Ou então pessoas idosas que já estão aposentadas, estão saudáveis, conseguindo andar, morando num lugar que tem espaço pra caminhar, eu fico pensando: por que tanto mau humor?  Por que não aproveitar o dia lindo?E isso não acontece só com cachorro não, eu vejo isso em relação a crianças também!Então se meu depoimento servir pra alguma coisa como amolecer um pouquinho esses coraçõeszinhos tão duros, colocar mais sorrisos nos rostos das pessoas e tornar nosso condomínio um lugar melhor para se conviver.