NBS ARTIGO 2


 
 
 
A transparência, o clamor das ruas e os condomínios
Por João Carlos Andrade, Jornalista

 
Não há qualquer dúvida. A cobrança por transparência dos gestores públicos ou privados – incluindo os administradores prediais -, veio mesmo para ficar. Em junho deste ano, as diversas manifestações em várias cidades brasileiras mostraram que a população quer transparência, principalmente em repúdio à má utilização dos recursos públicos. A certeza do contribuinte de que paga muito imposto por poucos resultados é a mais fiel tradução do sentimento de milhares de brasileiros que foram às ruas. Também ficou claro que a falta de transparência leva a outra doença ainda pior: a corrupção.
 
Se os gestores privados acham que o recado foi só para a presidente, senadores, deputados, governadores, prefeitos e vereadores, estão redondamente enganados. Lentamente, desde a promulgação do Código de Direitos do Consumidor, seguido dos estatutos protegendo crianças, adolescentes e idosos, e tamb m a simplificação do acesso à Justiça através das cortes de “pequenas causas”, além da visibilidade que esses temas passaram a ter na imprensa, quem é dirigente na iniciativa privada também deve entender a mensagem deixada pelos manifestantes, de junho até agora.
 
Administrar o dinheiro de uma comunidade ― seja de um País ou de um condomínio ― é tarefa de grande responsabilidade que, em geral, não admite erros.
 
Também não basta ao síndico ― para continuar no exemplo dos administradores prediais ― imaginar que está sozinho, que tudo pode em nome de um mandato transitório, que tem data para começar e terminar. Transparência na condução das causas coletivas de um prédio exige, também, ter espírito democrático para administrar crises, lidar com as diferenças, aceitar opiniões divergentes e se submeter à decisão da maioria, soberana em qualquer hipótese.
 
Transparência significa, ainda, dar publicidade aos atos e decisões tomados em nome dessa mesma coletividade. É noticiar o que foi prometido e cumprido, o que deu certo e o que não foi tão bem assim, o que ainda falta fazer e o que, eventualmente, o síndico se vê incapaz de realizar. Não fosse uma atitude naturalmente esperada e desejada dos gestores, agora os legisladores transformaram o assunto em determinação legal, através da regulamentação da lei de acesso à informação, prerrogativa que pode ser invocada por qualquer cidadã e cidadão desta Nação.
 
Os mesmos avanços que permitem hoje em dia maior controle social das pessoas em relação aos gestores em diversos níveis são também garantias para o próprio gestor de chegar ao término de seu mandato com a plena sensação do dever cumprido, de paz e tranquilidade, recompensa justa para quem segue esses parâmetros à risca.
 
Não há mais espaço para administradores tirânicos, mal-humorados, surdos, cegos e mudos para os anseios dos seus liderados. Imediatamente abaixo das leis que regem o País estão os direitos e deveres de cada contribuinte, de cada cidadã ou cidadão, que nossos líderes precisam e devem respeitar, para que o clamor das ruas, das escolas, dos locais de trabalho e dos apartamentos de um condomínio, seja finalmente atendido.